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Evolução da estrutura urbana até 1755

Tendo por base a observação da cartografia e iconografia disponível no que se refere à Lisboa anterior ao terremoto de 1755, pode-se verificar que a estrutura urbana da parte central da cidade se mantêm inalterável desde o século XVI (data das Primeiras imagens disponíveis da malha urbana da cidade de Lisboa).

A malha urbana corresponde a um conjunto de diferentes estruturas justapostas. Assim as encostas oriental e ocidental da Colina do Castelo, correspondendo de uma forma geral aos "antigos arrabaldes da Cerca Moura aglutinados na Cerca Fernandina". Esta zona da cidade apresenta características que a podem aproximar das observadas ao nível das cidades muçulmanas, donde se salientam algumas eregidas sob o domínio mouro na Península Ibérica.

O tipo de malha urbana de uma "cidade moura" caracteriza-se por:

  1. Apresentar ser um organismo simples, vivo, pouco diferenciado em termos funcionais como se tratasse de uma "espécie de magma urbano" , com grande parte do espaço público subtraído á sua condição pública (espaço privatizado ou semi-privatizado);

  2. Ser uma cidade sem continuidade, em que o espaço privado cruza o espaço público, em que as ruas são descontinuas e mesmo que coincidam com alguns caminhos e eixos pedonais, são quebradas por cruzamentos ou "cotovelos" que cortam a perspectiva.

Como exemplo destas características tem-se no bairro de Alfama as igrejas (centros da religiosos) e o chafariz d'El Rei (acesso à água) que se assumem como pontos centrais e nevrálgicos geradores do espaço circundante, analogamente ao observado na cidade muçulmana. Para além do bairro de Alfama, também o Castelo e a área correspondente à antiga freguesia de São Cristóvão apresentam esta estrutura, que posteriormente se expandiu no sentifdo da Baixa, com uma estrutura idêntica mas já não tão fechada, durante os séculos XII e XIII. Na zona da Baixa só o bairro da Sé se diferencia, com uma estrutura de eixos vincadoss, e quarteirões de dimensões razoáveis quando comparados com o observado em Alfama e nos restantes bairros da Baixa. Pensa-se que estrutura do Bairro da Sé, intra Cerca-Moura, pode derivar da estrutura urbana Romana.

Todo o tecido intra Cercas Moura e Fernandina é muito denso e irregular embora as artérias que liguem o Paço da Ribeira ao Rossio e a estrutura que com elas se relaciona seja já característica das cidades medievais europeias, isto é, um sistema linear ao longo de caminhos (característico do final da Idade Média).

A parte mais ocidental intra-Cerca Fernandina (Carmo e Chiado), apresenta uma estrutura urbana regular, como mais tarde no século XVI irá acontecer em larga escala no Bairro Alto, já fora da Cerca. Esta alteração talvez coincida com a génese de uma autoridade municipal mais organizada e interessada no controle e crescimento da estrutura urbana da cidade, ao contrário do que tinha sido regra nos períodos anteriores, desde o domínio muçulmano, passando pelo período pós-reconquista, até ao século XV.

Julga-se também que as áreas do Bairro Alto, Santa Catarina, Madragoa, possam ser resultantes de operações realizadas por grandes proprietários de terras, muito provavelmente por confrarias, que definiam o loteamento. Para ocidente da Cerca Fernandina os bairros do Bairro Alto, Bica, Calçada do Combro, Poço dos Negros, Madragoa, resultantes da expansão da cidade posterior ou contemporânea ao século XVI apresentavam um loteamento regular, traçado ortogonal das ruas, da forma dos quarteirões, compostos geralmente por lotes estreitos e alongados. Esta estrutura vai-se tornando compacta à medida que se densifica, sendo nos dias de hoje naturalmente mais densa que na sua origem.

Com o sismo de 1 de Novembro de 1755 grande parte das construções existentes em Lisboa foram destruídas ou ficaram seriamente danificadas. À data do terremoto do dia de Todos-os-Santos "Lisboa tinha uma população de cerca de 100000 habitantes e uma extensão por 350ha, alargando-se até Sta. Clara, Sta. Apolónia, Sta. Ana, S. Roque, Bairro alto, Sta. Catarina, Chagas, Boa Vista e Pampulha. Após o terremoto cerca de 17000 das 20000 casas existentes terão ficado destruídas ou em condições de inabitabilidade, assim como um grande número de palácios, conventos e igrejas, sendo muitos deles demolidos e posteriormente mandados reedificar noutros locais previstos no Plano de reconstrução da Baixa". A nova planificação da malha urbana foi uma das estratégias levadas a cabo pelo primeiro-ministro da época, o Marquês de Pombal, "que logo após a catástrofe mandou elaborar um inventário exaustivo do estado em que ficaram os bairros atingidos proibindo quaisquer construções até ao conhecimento dos seus resultados".

 

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Última actualização: 22-04-2005

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