A emergência do betão armado e o declínio das alvenarias

Como é do conhecimento geral, a ciência das construções foi marcada desde meados do século XVII até ao início do século XX por aperfeiçoamentos técnicos, estudos da natureza envolvente e orientação dos objectivos. De todos os aperfeiçoamentos, os operados no campo das cais hidráulicas e dos métodos de cálculo dos materiais elásticos foram aqueles que mais influenciaram o advento deste novo material denominado betão armado que viria a ocupar o primeiro lugar nos sistemas de construção de edifícios sobretudo nas sociedades ocidentais.

Os aperfeiçoamentos referidos influenciaram fortemente o sector das alvenarias e das novas construções com estrutura metálica, permitindo ainda o aperfeiçoamento da produção do cimento Portland, dos betões e de sistemas capazes de associar betões e aço num novo material denominado betão armado.

"O rápido desenvolvimento dos sistemas de betão armado ao longo de todo o século XIX, constituiu uma base para a sua difusão, iniciada sobretudo depois da apresentação do sistema Ransome na exposição de Paris de 1889, depois do registo das primeiras patentes, e durante as primeiras décadas do século XX, seguiu-se uma fase de consolidação do sistema graças a diversos melhoramentos que deram continuidade às correntes de investigação do século XIX:

1. A análise experimental do comportamento físico-químico dos betões;
2. A obtenção de resistências à compressão cada vez mais elevadas;
3. A uniformização dos testes capazes de avaliar as capacidades resistentes em função das diferentes classes de dosagem;
4. A normalização das produções dos cimentos Portland (e dos betões, com o estabelecimento de regulamentos nacionais (ver Evolução da Regulamentação do Betão Armado em Portugal);
5. O aperfeiçoamento dos fornos rotativos, com consequente aumento da produtividade;
6. Estabelecimento de teorias de cálculo elástico capazes de optimizar o uso da capacidade resistente de diversos sistemas e patentes;
7. A racionalização dos sistemas construtivos baseados nas estruturas porticadas com pilar-viga e laje.

O movimento de reconstrução observado na Europa depois da Primeira Guerra Mundial, promoveu um grande incremento ao nível da construção em betão armado, o mesmo acontecendo na sequência da Segunda Guerra. Este aumento ao nível da procura foi acompanhado por um aperfeiçoamento e melhoria tecnológica das produções do cimento Portland (Marcos do desenvolvimento do cimento Portland, do betão e do betão armado) e do aço, que passaram a deter o monopólio do mercado da indústria da construção. "À indústria dos materiais associou-se a difusão dos conhecimentos ao nível do cálculo de engenharia e do modernismo arquitectónico"..

No curto espaço que decorreu entre 1900 e 1950, estes factores contribuíram para a redução ou quase eliminação do ensino das alvenarias dos curriculum académicos. Estava assim aberta a porta para a generalização do betão armado na indústria da construção.