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INFORMAÇÕES DE INTERESSE GERAL

 

Edifícios com estrutura de alvenaria (< 1755)

Consideram-se como parte integrante desta categoria os edifícios que resistiram total ou parcialmente ao grande terremoto de 1755, e que se conservaram ao longo do tempo até à actualidade. Incluem-se nesta categoria os edifícios de interesse histórico, apesar de muitos se encontrarem em péssimas condições de conservação. Concentram-se preferencialmente nos bairros históricos (Alfama, Castelo, Mouraria, Bairro Alto), correspondendo a edifícios notáveis individualizados.

Atendendo ao seu aspecto identificaram-se (i) edifícios de qualidade elevada, (ii) de qualidade inferior e (iii) edifícios com andar de ressalto. Os primeiros (i) apresentam paredes de alvenaria bem cuidada, pedra aparelhada pelo menos nos cunhais, com elementos de travamento. Relativamente aos segundos (ii) pode-se dizer que as paredes de alvenaria são pobres, quando a alvenaria é de taipa encontra-se mal conservada, apresentam ainda grande deformação permanente e, em muitos casos, ausência de elementos de travamento. Na maioria dos casos as paredes apresentam espessura, considerável observando-se em certos casos amaciamento ou gigantes. Os pavimentos vencem, raras excepções, vãos pequenos e são geralmente sobrados de madeira. Finalmente os edifícios com andar de ressalto (iii) são constituídos por um rés-do-chão em alvenaria de pedra, e pavimento em arco que serve de suporte a um ou dois pisos com estrutura reticulada de madeira, salientes em relação ao rés-do-chão. O revestimento exterior das paredes era efectuado por uma alvenaria mista em enxadrezado, na qual se nota já a preocupação de gaiola pombalina, que será generalizada na época subsequente.

Os edifícios costumavam ter dois, três ou no máximo quatro andares geralmente com pé-direito muito reduzido, grande densidade de paredes e poucas aberturas para o exterior.

Os pavimentos térreos eram regra geral constituídos por lajes de pedra, dependente da zona do país em que se encontrava o edifício implantado. Por exemplo para a zona de Lisboa em que abunda pedra calcária, era frequente encontrarem-se lajes de grandes dimensões em calcário, sobretudo em edifícios de maior qualidade ou em espaços sujeitos a grande desgaste, como armazéns ou lojas. Além deste tipo de revestimentos eram também usuais em entradas e pátios a calçada e em compartimentos de habitação correntes o soalho de madeira assente sobre um sistema de vigas rudimentares.

Relativamente aos pavimentos dos pisos elevados era mais vulgar tanto na quase totalidade dos edifícios correntes como em palácios a utilização de pavimentos de madeira - os referidos sobrados. O pavimento consistia para além da madeira num conjunto de vigas encastradas nas paredes de alvenaria, usualmente nas de fachada, apoiadas no tabique resistente paralelo às fachadas, sensivelmente a meio do vão. No caso das casas de fachada em tabique, o pavimento formava um conjunto homogéneo com estas. Os sobrados eram revestidos na face superior pelo soalho e na inferior por um "forro dito de saia e camisa" constituído por pranchas de madeira. Era ainda corrente existirem arcos ou abóbadas de tijolo a suportar o sobrado. As abóbadas de tijolo eram utilizadas não apenas nos primeiros pavimentos dos palácios mas também nos restantes pisos, enquanto que em edifícios correntes a sua utilização era rara.

Relativamente às paredes podem-se identificar como sendo de cantaria, de alvenaria ou tabiques. A diferenciação estabelecida baseia-se no tipo de material utilizado na sua construção e processo construtivo correspondente.

A cantaria é sem dúvida considerada a solução mais nobre, visto que de uma forma geral os edifícios com paredes de cantaria apresentavam custos acima dos restantes, para um mesmo volume de construção, resultantes não só do material aplicado (a pedra devidamente aparelhada) mas também do recurso a mão-de-obra especializada. Nesse sentido as soluções construtivas com paredes de cantaria era bastante mais comuns nos edifícios classificados, como palácios, monumentos e igrejas, do que nos edifícios tradicionais de habitação.

As alvenarias ordinárias eram geralmente bastante pobres, constituídas por blocos irregulares de pedra (dependente da zona do país em que se encontrava a construção) de dimensões médias e por tijolos ou pedaços de tijolos ligados entre si por uma argamassa de cal e areia, dada a abundância relativa destes materiais em quase todo o território português, rebocadas e pintadas com cal e pigmentos naturais.

Identificaram-se também como alvenarias de parede utilizadas nas construções pré-Pombalinas a taipa e o adobe, que corresponde a sistemas de construção milenares que perduraram até aos dias de hoje principalmente na construção de edifícios rurais. "A taipa é constituída por terra húmida, com características argilosas, comprimida entre taipais (amovíveis) de madeira, retirados depois de se completar a secagem, originando paredes ou muros homogéneos e monolíticos". A falta de capacidade de coesão deste material perante a acção da água terá sido uma das principais causas para que poucas sejam as construções pré-Pombalinas edificadas com este material que ainda se mantenham erigidas. Em Portugal as primeiras casas de taipa terão surgido há cerca de 2500 anos. As que ainda persistem possuem na sua esmagadora maioria apenas um piso, embora se possam encontrar exemplares com dois pisos. Quando a argila utilizada na taipa era muito retráctil, juntava-se por vezes palha, que funcionava como um elemento aglutinador, diminuindo o efeito da retracção do material e melhorando o comportamento higrotérmico da parede. A palha era ainda usada noutras situações, como em paredes de pedra seca (Norte do País) onde era utilizada a seco para vedar juntas, por forma a impedir a passagem do frio. Tal como no caso das paredes de taipa, também as paredes de adobe remontam aos primórdios das civilizações primitivas. "Estas paredes, que correspondem a uma situação ainda relativamente pouco conhecida, são constituídas por tijolos de barro amassado com água e cozidos ao sol, ou em fornos a temperaturas variáveis. As matérias-primas são muito diversas, mas a base, a argila, é composta por misturas arenosas ou calcárias, que conferem ao barro características próprias". Esta solução apresentava uma resistência deficiente face aos agentes atmosféricos, em virtude de se desagregar facilmente em presença da chuva ou da humidade ascendente, pelo que os tijolos não podiam assentar directamente no solo, para além de que as habitações se tornavam na maioria dos casos insalubres. A principal consequência deste comportamento era que as suas faces superiores dos alicerces das paredes de adobe tivessem que estar ligeiramente acima do terreno, e fossem constituídas por alvenaria corrente, analogamente ao observado para as paredes de taipa. Inicialmente empregava-se argila amassada com água como material de ligação entre os blocos, que com o passar do tempo foi sendo substituída pela argamassa ordinária. Em certas zonas do país, atendendo à predominância de xisto na natureza, regista-se a existência de paredes mistas de adobe e xisto.

Nas construções pré-Pombalinas os tabiques podem ser exteriores e interiores. No caso dos tabiques exteriores as paredes eram constituídas por um conjunto de vigas, prumos e diagonais de travamento em madeira, apoiando-se nas paredes de alvenaria do piso ou pisos inferiores, que no caso das casas ressalto avançavam sobre a rua. Os vazios destas estruturas eram preenchidos com pedaços de tijolo ou tijolo e pedra ligados e rebocados com a mesma argamassa de cal e areia. Estas estruturas apresentavam grande elasticidade dadas as punções portantes e de travamento exercidas pelas paredes interiores e exteriores. Eram no entanto altamente vulneráveis à penetração de humidade e aos incêndios. Os tabiques interiores portantes, paralelos às fachadas, onde se apoiavam as vigas de pavimento eram iguais aos exteriores, com 0.20m de espessura total, os restantes considerados como semi-portantes eram construídos segundo o mesmo sistema mas apresentavam espessura inferior (0.15m). Finalmente existiam os tabiques de separação com 0.10m de espessura constituídos por tábuas costaneiras cobertas com fasquiado de madeira que permitia segurar o reboco.

"O espaço interior derivado das dimensões dos lotes é quase sempre exíguo, o que obriga à inexistência de corredores e à passagem directa de uns compartimentos para os outros. Atendendo á forma e agrupamento dos lotes, muitos compartimentos não têm janelas. Quando existem as janelas são de pequenas dimensões, mais frequentemente de peito e quando de sacada esta corresponde sempre ao vão da sala, compartimento que se relaciona com a rua principal". As janelas de sacada são mais frequente nos edifícios com fachada em alvenaria e quando aparecem em fachadas de tabique a consola da varanda de pequenas dimensões resulta também do prolongamento das vigas de pavimento. As janelas de peito, quase quadradas, são em todo o caso um pouco mais altas que largas. A totalidade dos vãos apresenta guarnição de madeira em fachadas de tabique ou de pedra em fachadas de alvenaria. São as guarnições de pedra que em portas ou janelas mais imponentes, ostentam por vezes decoração que permite identificar a sua época de construção.

Os andares deste tipo de construção tem pé direito muito pequeno, grande densidade de paredes e, como já foi referido, poucas aberturas para o exterior. Apenas nos edifícios com andar de ressalto, numa antevisão da tecnologia Pombalina, a construção torna-se mais aligeirada.

Em habitações correntes o acesso aos pisos é feito por escadas que vencem um só piso num lanço apenas. Os lanços das escadas eram alinhados no comprimento do edifício, quando a profundidade do lote o permitia, tomando assim o nome de "escada de tiro". O afastamento da escada, suportada por duas vigas oblíquas que se apoiavam nas vigas dos pavimentos, era mantido por uma série de pequenas traves que ajudavam a suportar os degraus. Geralmente a escada encostava-se às paredes meeiras ou meãs (de alvenaria) que dividiam os lotes. Em lotes de fachada mais larga a escada podia implantar-se a meio. Não é raro no entanto que, aproveitando os declives tão frequentes em Lisboa, o acesso aos diferentes andares ou fogos fosse individualizado.

Relativamente às coberturas pode-se dizer que eram constituídas "por uma estrutura de madeira de suporte, de aparência periclitante", revestida na sua parte superior por um tabuado onde assentava o telhado. Geralmente o telhado era em telhas de canudo que podiam ser argamassadas ou aramadas. As coberturas podiam ser de quatro águas, o caso mais comum, de três quando o edifício se encostava a uma parede mais alta no tardoz, ou de duas paralelas ou perpendiculares á fachada. "Este último caso dá origem às fachadas de bico, muito frequentes na Lisboa pré-pombalina. Estas casas ainda se encontram hoje em grande número em Lisboa, Setúbal e numa área que se estende de Cascais a Sesimbra ou ao Montijo, e parece revelar uma possível influência flamenga ou germânica, culturas com que Portugal manteve relações estreitas".

Os edifícios desta época não possuíam instalações sanitárias, sendo o acesso à via pública efectuado da forma mais directa possível, e sem vestíbulo na entrada. Geralmente as escadas ocupavam uma área reduzida, localizando-se junto á fachada principal. Sempre que possível tirava-se partido da inclinação do terreno na perpendicular à rua para o acesso aos andares superiores, situação facilmente identificada em edifícios que possuam duas entradas (desniveladas): uma pela rua da frente e outra pela rua de trás.

"Os edifícios anteriores a 1755 ocupam hoje em dia parte importante das áreas mais antigas de Lisboa, na sua expressão essencialmente urbana (2 a 3 pisos) e estão disseminados na sua forma rural (casa de rés-do-chão), formando manchas mais pequenas, por alguns locais de Lisboa onde à data funcionavam as casas de campo e quintas".

Os edifícios pertencentes a fase final deste período que não foram destruídos ou gravemente danificados pelo sismo de 1755 apresentam já regras de composição que se tornarão mais evidentes ao nível dos edifícios pertencentes à fase seguinte (Edifícios com estrutura de alvenaria da época pombalina e similares - 1755 a 1870). "A influência italiana, cada vez mais importante a partir do início do século XVI é visível primeiro através da proliferação de pormenores clássicos e depois no progressivo reconhecimento das regras de composição clássica - simetria, regularidade, sistemas de proporção e equilíbrio sobretudo nas fachadas e a tendência para a composição horizontal dos alçados irá ter uma influência determinante na forma dos edifícios e loteamento".

Galeria de imagens (em construção)

 

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Última actualização: 22-04-2005

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